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TEXTO CONTRA AS EXPERIÊNCIAS


Mito das experiências em animais




por Bernhard Rambeck




Grande parte de nossa sociedade acredita na necessidade incondicional das experiências em animais. Essa crença baseia-se em mitos, não em fatos e esses mitos precisam ser divulgados para evitar a implosão de um sistema pseudo-científico.
Sem esses mitos, seria evidente que as experiências em animais não ajudam a humanidade, mas causam prejuízos imensos ao animal e ao homem.
Em nosso próprio interesse precisamos analisar os mitos em que se baseia o sistema de pesquisas com animais, pois não se trata apenas de aceitar um mal necessário. O sistema de experiências em animais pertence --- assim como a tecnologia genética ou o uso da energia atômica --- a um sistema de pesquisas e exploração que despreza a vida.

Com ele cavamos uma sepultura para a ecosfera e para nós mesmos. A morte das florestas, o buraco de ozônio, o efeito estufa, as alterações climáticas, os mares contaminados, a matança de focas, AIDS - tudo isso são sinais visíveis, mas afastamos o conhecimento das causas e somos incapazes de agir. Para sobreviver precisamos compreender como tudo está interligado e perceber que a utilização de milhões de animais sensíveis como objeto de exames e instrumentos descartáveis de medição nunca conduzirão à nossa cura, mas apenas à nossa autodestruição crescente. Vamos examinar a rede de mitos que cerca as experiências em animais.

1º Mito – O conhecimento médico está baseado em experiências com animais
Sempre nos fazem crer que a verdadeira arte médica só começou há cerca de 100 anos, com a quimioterapia. Isso é falso: em todas as épocas houve médicos excelentes que realmente conseguiam ajudar; em todas as épocas houve academias famosas realmente ensinando a arte da cura.
As bases do conhecimento médico clássico não eram pesquisas em animais, embora estas já existissem, em pequenas proporções, há milênios. Essencial era a observação de homens e animais doentes e sadios. Também a maior parte do nosso conhecimento médico moderno não se baseia em experiências com animais ou, então, foi apenas confirmado posteriormente por essas experiências. Muitas substâncias eficazes à base vegetal e também medicamentos como o ácido acetilsalisílico (contra febre) ou fenobarbital (para epilepsia) foram descobertos sem experiências em animais.
A maioria das técnicas cirúrgicas habituais não foram desenvolvidas em animais.
 

2º Mito: Foram as experiências em animais que possibilitaram o combate às doenças e, desta forma, permitiram aumentar a vida média.
Esse mito padrão daqueles que apóiam as experiências com animais é falso! O aumento da expectativa de vida deve-se, principalmente, ao declínio das doenças infecciosas e à conseqüente diminuição da mortalidade infantil. As causas desse declínio foram melhores condições de saneamento, uma tomada de consciência em questões de higiene e uma melhor alimentação - não foi a introdução constante de novos medicamentos e vacinas. Da mesma maneira, os elevados coeficientes de mortalidade infantil no Terceiro Mundo podem ser atribuídos a problemas sociais, à pobreza, à desnutrição, etc... - não à falta de medicamentos ou vacinas.


3º Mito: A pesquisa médica só é possível com experiências em animais
Há algumas décadas, o conceito de métodos alternativos não existia. Ainda recentemente nos explicavam que o teste DL-50% (para determinar a dose letal) e outras atrocidades eram indispensáveis. Os cientistas declaravam unânimes que só o animal ileso poderia demonstrar o efeito dos medicamentos. Atualmente as declarações são mais cuidadosas. A indústria está explicando, constantemente, quantos animais já substituíram, quanto já diminuiu o consumo de animais e como é perfeitamente possível renunciar ao DL-50%. Em muitas áreas estão utilizando métodos alternativos, processos in-vitro com culturas celulares, microrganismo, etc, cujos resultados superam de longe as provas fornecidas pelas experiências em animais.
Esse desenvolvimento mostra como - através da pressão da opinião pública - é possível conseguir que não se façam experiências com animais.
Percebemos também, que muito daquilo que era considerado parte incontestável da medicina moderna, pode ser, tranqüilamente, substituído em poucos anos.

4º Mito: Experiências em animais são necessárias porque as doenças mais importantes ainda não têm cura.
Apesar das excessivas experiências em animais, as doenças mais importantes não foram modificadas, não se tornaram mais curáveis. Esse fato mostra exatamente o pouco que as experiências em animais podem contribuir para a erradicação das doenças humanas. A conseqüência lógica não pode ser a ampliação da pesquisa em animais e sim, esforços redobrados visando o controle, a profilaxia e a pesquisa das causas das doenças. Não há mais dúvidas de que nós mesmos causamos a maioria das doenças, através de alimentação errada, dependência de substâncias tóxicas, stress, etc.
Estudos amplos com vegetarianos comprovaram há tempo que uma alimentação mais saudável reduz o risco de câncer, diminui a probabilidade de doenças cardiovasculares e aumenta a expectativa de vida.

5º Mito: Experiências em animais são necessárias para afastar a ameaça de novas doenças.
Uma típica nova doença ameaçadora é a AIDS.
A pesquisa da AIDS é um ótimo exemplo de pesquisa moderna que pode acumular consideráveis conhecimentos em pouco tempo, e sem usar experiências em animais. Os progressos na pesquisa da AIDS não se baseiam em experiências em animais, mas na epidemiologia, na observação clínica dos doentes e nos estudos in-vitro com culturas celulares.

6º Mito: Os riscos de novos medicamentos e vacinas só podem ser determinados por meio de experiências em animais.
Medicamentos importantes foram descobertos antes da era das experiências em animais, que ainda hoje estão em uso. Fica cada vez mais claro que a transferência de resultados toxicológicos do animal para o homem não tem sentido. Existem cada vez mais métodos expressivos que dispensam as experiências em animais. Testes toxicológicos como o DL-50% ou o estudo de irritação dos olhos do coelho (Teste Draize) são - também segundo diversos cientistas - rituais de extrema crueldade que nada têm a ver com ciência. Ainda mais difíceis de serem transferidos para o homem são os resultados de pesquisas nas quais fazem penetrar em diversos animais, por ingestão ou injeção, grande quantidade de substâncias experimentais durante um tempo prolongado. Não convém esquecer que o risco final é sempre do homem; mas, na medida em que experiências em animais aparentam segurança, o homem é levado ao uso descuidado de novas substâncias. Isso aumenta o risco ainda mais.

7º Mito: Experiências em animais não prejudicam a humanidade.
Experiências em animais atribuem segurança aparente a medicamentos e a novas substâncias, embora de forma alguma seja possível avaliar essa segurança. A tragédia com a Taliodomida é conhecida. Aproximadamente um terço de todos os doentes com problemas renais que fazem diálise (ou esperam pela doação de um rim) destruíram sua função renal tomando analgésicos considerados seguros após experiências em animais. Todos os medicamentos retirados do mercado por exigência dos órgãos de saúde foram testados em experiências com animais. Um outro exemplo: o perigoso “buraco de ozônio” sobre a Antártida é causado pelos CFC (clorofluorcarbonetos), que foram considerados seguros após experiências químicas e, também, com animais. A noção errônea de segurança levou à produção e à disseminação desenfreada dessas substâncias, que agora ameaçam a biosfera do nosso planeta.
Experiências em animais, na realidade, tornam as atuais doenças da civilização ainda mais estáveis. A esperança por um medicamento descoberto por meio das pesquisas com animais destrói a motivação para tomar uma iniciativa própria e para mudar significativamente o estilo de vida. Enquanto nos agarramos à esperança de um novo remédio contra o câncer, as doenças cardio-vasculares, etc, nós mesmos - e todo o sistema de saúde - não estamos suficientemente motivados para abolir as causas dessas enfermidades, ou seja o fumo, as bebidas alcoólicas, a alimentação errada, o stress, etc.
Experiências em animais destroem a consciência em relação às espécies, à interdependência e aos ciclos na natureza. Quem é capaz de julgar as conseqüências que os animais manipulados pela biotecnologia trarão para a natureza ? Quem é capaz de avaliar a conseqüência de uma fuga de ratos patenteados com câncer, ratos com AIDS, etc?
Durante milhões de anos de evolução, a natureza deu prioridade à saúde e à capacidade de adaptação dos animais. Nós, homens, produzimos animais com doenças congênitas, aperfeiçoados para fins científicos e comerciais.
Ao sistema de pesquisa científica baseado em experiências com animais cabe grande parte da responsabilidade pela crise profunda em que se encontra, sob todos os pontos de vista, a medicina moderna. A medicina atual é cara demais; em muitas áreas é francamente perigosa e - para as doenças realmente importantes da época - é ineficaz. Esses três aspectos estão intimamente relacionados e têm como ponto de partida a visão do homem (uma espécie de biomáquina) desenvolvida a partir de experiências em animais.
Um dos piores danos causados pelas experiências em animais consiste no embrutecimento da cultura médica. Sem levar em conta que a experiência com o homem, o princípio das experiências com animais está afastando a medicina cada vez mais da arte de cura e empurrando-a para uma medicina que conserta e coloca peças. Não precisamos retratar as doenças como algo positivo, mas enquanto encaramos a doença apenas como defeito a ser tecnicamente consertado, perdemos a possibilidade de questionar o sofrimento humano.
Perdemos toda possibilidade de aceitar a doença como algo que tem um sentido, algo pelo qual precisamos passar.

8º Mito: O animal não sofre durante a experiência.
O sofrimento do animal usado nos experimentos já começou bem antes da experiência, quando é confinado, criado e transportado em condições totalmente estranhas à espécie. Não existem experiências toxicológicas inofensivas para o animal! Gostaria de saber como experiências toxicológicas - durante as quais os animais são envenenados de forma mais ou menos rápida - podem decorrer sem tortura e dor. Não existe experiência nas áreas de toxicologia, cirurgia, radioterapia, etc, sem sofrimento terrível para o animal atingido! Ainda hoje a experiência representa para o animal um sofrimento terrível, que normalmente só termina com a morte.

9º Mito: Somente os especialistas sabem avaliar a necessidade, a validade e a importância das experiências em animais.
O mito de que leigos, por falta de conhecimento especializado, não podem opinar sobre experiências em animais proporcionou, durante dezenas de anos, um campo livre para os vivisseccionistas. Eles têm enorme interesse em trabalhar sem serem observados e incomodados por um público crítico. As experiências em animais, assim como a criação de animais confinados, ou a criação de animais para comércio de peles são praticadas com um número infinito de torturas porque os políticos, os legisladores, os teólogos, os filósofos e, principalmente, o homem comum não têm noção do que acontece ou, então, têm uma idéia totalmente errada do sofrimento e da miséria desses animais.
Nos últimos anos, porém, os muros do silêncio vêm sendo progressivamente derrubados pela imprensa, pelo rádio e pela televisão. Além disso, os últimos anos trouxeram mudanças importantes: os leigos são apoiados por especialistas e por associações médicas e leigas, nacionais e internacionais, que rejeitam as experiências em animais.
Deixar que os próprios pesquisadores julguem a necessidade e a importância das experiências em animais é semelhante a um parecer sobre alimentação vegetariana feito por uma associação de açougueiros ou a um relatório sobre o significado da energia nuclear elaborado pelos fornecedores de usinas nucleares. Não serão justamente aqueles que estão engajados no sistema de experiências em animais que irão questionar a vivissecção!
De forma alguma é necessário ser um especialista para derrubar este nono mito: apesar de milhões de animais torturados e mortos, a vivissecção não conseguiu obter um resultado frente às epidemias do nosso tempo.

10º Mito: Não é possível abolir as experiências com animais.
Esse mito, sempre apresentado pelos defensores da vivissecção, é um dos pilares que sustentam o sistema das experiências em animais. A afirmação de que as experiências em animais possam, quando muito ser reduzidas a um “mínimo indispensável”, mas jamais completamente abolidas, nos paralisa. Leva a discussões intermináveis, despidas de sentido, sobre a extensão e o tipo de experiências que podem ser substituídas ou descartadas. Esse é um dos motivos pelos quais o movimento dos opositores está tão dividido. Na questão da abolição das experiências, deveríamos verificar como outros erros históricos foram vencidos.
Hoje está claro que a caça às bruxas, a exploração sem clemência dos escravos, a separação desumana de raças constituem crimes que não podem ser eliminados pela redução do número de vítimas, ou por etapas. Só podem ser eliminados por mudanças fundamentais, associadas à uma tomada de consciência. Assim, também a vivissecção precisa ser eliminada em sua totalidade, como um caminho prejudicial inaceitável.
As chances de alcançarmos esse objetivo (a abolição das experiências em animais) são hoje maiores do que nunca. O movimento contra vivissecção é visto cada vez mais como parte do movimento ecológico, que se preocupa com os danos gigantescos que o homem comete em sua prepotência. Adversários das experiências em animais estão se aliando a grupos que enfrentam a engenharia genética, criação de animais confinados, a criação de animais para comerciar pele, a morte das florestas ou os perigos da energia nuclear. Todos eles procuram impedir a exploração desenfreada da natureza e concebem o nosso ecossistema como algo muito delicado, uma rede interligada de múltiplas formas.
É muito importante que a motivação para combater as experiências em animais se transforme cada vez mais. Enquanto, antigamente, o animal e o horrendo tratamento estavam no centro da discussão, hoje aumenta a consciência de que o próprio homem é o maior prejudicado com a exploração egoísta do animal. O confinamento dos animais de corte significa, em primeiro lugar, uma terrível tortura para eles, mas logo levou a um aumento considerável das doenças provocadas pela alimentação. As possibilidades da engenharia genética mostram, em primeiro lugar, um inacreditável sangue-frio em relação aos animais manipulados, mas em seguida tornou-se uma ameaça complexa ao equilíbrio ecológico e, através disso, à própria existência do homem.
Assim, hoje entendemos cada vez melhor que a experiência em animais, além de representar um enorme sofrimento para a vítima, contribui - devido a todas as conseqüências -para a autodestruição do homem.
Se o homem não consegue adquirir um novo nível de consciência da interdependência e das interligações dentro da natureza para desistir voluntariamente de surpresas desagradáveis como a vivissecção, a engenharia genética, a energia atômica...a natureza vai se encarregar de eliminar o homem definitiva e irreversivelmente junto com suas experiências em animais ! Ainda existe escolha. Ainda existe a possibilidade de pôr um fim à exploração desenfreada do planeta com todos seus seres , de abolir a vivissecção em seu próprio interesse!

Conclusão:


A experiência em animais não representa apenas um método cruel, e por isso mesmo antiético, mas é também destituído de validade científica. No interesse do homem e do animal, precisa ser abolida o mais rápido possível e substituída por métodos racionais e humanos!


Texto retirado do endereço abaixo
 

União Nacional Protetora dos Animais


TEXTO A FAVOR DAS EXPERIÊNCIAS


Sem eles não há avanço
Experiências com animais seguem imprescindíveis, ao contrário do que dizem ativistas
Fabrício Marques
Edição Impressa 144 - Fevereiro 2008


© Miguel Boyayan


Nove em cada dez experiências usam roedores, baratos de manter e fáceis de manusear


Entre os feriados do Natal e do Ano-Novo, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou uma lei que, se for levada à prática, obstruirá uma parte significativa da pesquisa científica realizada na cidade por instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as universidades federal e estadual do Rio de Janeiro e o Instituto Nacional do Câncer (Inca). De autoria do vereador e ator Cláudio Cavalcanti, a lei tornou ilegal o uso de animais em experiências científicas na cidade. “Um ser humano que tortura seres dominados e incapazes de se defender, seres que gritam e choram de dor – seja esse ser um pesquisador ou um psicopata – representa o rebotalho da Criação”, justificou Cavalcanti, um destacado militante na defesa dos direitos dos animais, em favor de seu projeto.

A comunidade acadêmica reagiu. A estratégia foi definida na primeira semana de janeiro, numa reunião entre o secretário de Ciência e Tecnologia do estado do Rio, Alexandre Cardoso, e pesquisadores de várias instituições. A bancada de deputados federais do estado será mobilizada para ajudar a aprovar um projeto de lei que tramita no Congresso há 12 anos e estabelece normas para a utilização criteriosa de animais em experimentação. A lei municipal perderia efeito se o projeto federal sair do papel. Paralelamente, os pesquisadores também decidiram partir para a desobediência e ignorar a lei. “Continuaremos trabalhando com animais de laboratório, cujos protocolos foram aprovados pelos comitês de ética, e com animais das instituições de pesquisa”, diz Marcelo Morales, presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBf) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos líderes da reação dos cientistas.

Acontece que a interrupção do uso de animais geraria prejuízos imediatos com repercussão nacional, como a falta de vacinas, inclusive a de febre amarela. O controle de qualidade dos lotes de vacinas fabricados no Rio pela Fiocruz é feito por meio de animais de laboratório. A inoculação em camundongos atesta a qualidade dos antígenos antes que eles sejam aplicados nas pessoas. Sem poder usar roedores, a distribuição de vacinas como a de hepatite B, raiva, meningite e BCG teria de ser interrompida, por falta de segurança. “Também é fundamental esclarecer à população que, se essas experiências forem proibidas na nossa cidade, todos os nossos esforços recentes para descobrir vacinas para a dengue, a Aids, a malária, a leishmaniose seriam jogados literalmente no lixo”, diz Renato Cordeiro, pesquisador do Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica da Fiocruz. Marcelo Morales enumera outros prejuízos. “Pesquisas sobre células-tronco no campo da cardiologia, da neurologia e de moléstias pulmonares e renais, lideradas por pesquisadores da UFRJ, e de terapias contra o câncer realizadas pelo Inca teriam de ser interrompidas”, afirma.

O imbróglio do Rio de Janeiro preocupa pesquisadores de todo o país porque não é um caso isolado. Em novembro, vereadores de Florianópolis também proibiram o uso de animais em práticas de ensino e pesquisa no município. Em 2005, a Assembléia Legislativa paulista aprovou uma lei que, além de coibir os rodeios e cercear os abatedouros, proíbe o uso de animais em pesquisa caso haja dor. A lei ainda carece de regulamentação e sua constitucionalidade está sendo contestada no Supremo Tribunal Federal (STF). “A pressão está aumentando e nós não estamos conseguindo mostrar à população o que está em jogo”, diz João Bosco Pesquero, professor de biofísica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor-geral do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais para Medicina e Biologia (Cedeme), o biotério da universidade. “As pessoas se posicionam contra o uso de animais em pesquisas sem perceber que isso é fundamental para o desenvolvimento dos remédios que elas compram nas farmácias e que permitiu avanços que aumentaram a expectativa de vida da humanidade”, destaca Pesquero.

Walter Colli, professor do Instituto de Química da USP, observou, em artigo assinado em outubro de 2006 na revista Ciência Hoje em parceria com Maria Júlia Manso Alves, que os cientistas precisam divulgar melhor a ciência e seus métodos, a fim de não perder o apoio da opinião pública para uma atividade essencial para o progresso. “Até há pouco tempo, o cientista era visto como um benfeitor da humanidade. No entanto, no presente, ele é muitas vezes apontado como um profissional frio e calculista, sem sentimentos. Grupos que pensam assim estão equivocados, já que nenhum cientista, em sã consciência, teria prazer em maltratar animais”, escreveu Colli.


A briga que esquenta no Brasil é uma velha conhecida de países como os Estados Unidos e a Inglaterra, onde grupos bastante articulados costumam promover protestos ruidosos em universidades e já chegaram a atacar fisicamente pesquisadores envolvidos com experiências. Nesses países, a garantia de que os animais são tratados de forma ética vem de legislações restritivas que, em linhas gerais, proíbem o uso fútil desses modelos e exigem transparência dos cientistas. A lei inglesa está em vigor desde 1876. É a experiência internacional que inspira os pesquisadores brasileiros a defender a aprovação de um projeto de lei apresentado em 1995 pelo então deputado e médico Sérgio Arouca (1941-2003). A chamada Lei Arouca estabelece, por exemplo, que só se deve utilizar animais de laboratório caso não haja outro meio de testar a hipótese da pesquisa e que a utilização dos modelos deve ser monitorada por comitês de ética específicos para essa finalidade formados em cada instituição. Todo o sistema seria coordenado por um conselho nacional, composto por cientistas e representantes de ministérios, encarregado de formular normas relativas à utilização ética de animais e zelar pelo seu cumprimento.


A aprovação da lei, diga-se, pouco afetaria a rotina das principais universidades do país, que nos últimos dez anos já se adaptaram aos ditames do projeto de Arouca. Mas teria o dom de garantir a disseminação das normas em instituições de pesquisa de regiões mais pobres, que nem sempre dispõem de condições financeiras de manter biotérios adequadamente. Para Marcelo Morales, presidente da SBBf, a criação de um marco legal é essencial e sua ausência gera uma situação de incerteza, que causa constrangimento a pesquisadores. “Mesmo fazendo experimentos com protocolos aprovados na comissão de ética da UFRJ, Leopoldo de Meis, um dos mais respeitados cientistas do Brasil, por exemplo, foi acusado de maus-tratos a animais e acabou intimado a depor na delegacia”, contou. De Meis, que é professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, foi acusado em dezembro de 2006 de torturar animais, expondo-os a um frio de 4ºC, com base numa fotografia tirada em seu laboratório pelo telefone celular de uma ativista. Na delegacia, o cientista explicou que a maior parte dos coelhos do mundo vive naturalmente nessa temperatura e foi liberado.


Proibido fumar - As entidades antivivisseccionistas costumam esgrimir um conjunto articulado de argumentos, que tem conquistado corações e mentes de políticos e eleitores. O principal deles dá conta de que os bichos são vítimas de maus-tratos e de tortura. “Afirmo que os animais de laboratório vivem em condições de alimentação, de manutenção e de conforto melhores do que boa parte da população brasileira. E isso ocorre porque é essencial ter animais em boas condições de saúde para as experiências científicas”, diz Luiz Eugênio Mello, professor de fisiologia da Unifesp e presidente da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe). As regras seguidas pelo biotério da Unifesp, que fornece a Luiz Eugênio animais para suas pesquisas sobre fisiologia e o estudo da epilepsia, seguem minúcias como o tempo máximo (12 horas) que se pode impor de jejum a um animal antes que ele seja operado e a adoção de regime de ventilação que permita de 15 a 20 trocas totais de ar por hora no ambiente em que vivem os bichos. É terminantemente proibido fumar no biotério.


Quanto à idéia da tortura, Luiz Eugênio lembra que os comitês de ética de pesquisa instalados desde os anos 1990 em todas as universidades e instituições de pesquisa já realizam um monitoramento ético das experiências com animais, com exigências em relação ao uso de anestésicos e de analgésicos e da eutanásia sem dor depois da sua utilização. Agências como a FAPESP e o CNPq também fazem exigências sobre o uso de animais para fomentar projetos. “Evidentemente, se eu estou testando um medicamento para dor ou para ansiedade, não conseguirei avaliar a eficácia sem submeter o animal à dor ou a uma situação de ansiedade. Mas esse tipo de desconforto a que o animal é submetido é sempre controlado e quan-tificado, caso contrário não é possível mensurar o resultado da experiência”, afirma Luiz Eugênio.


Outro argumento corrente dos defensores dos direitos dos bichos é que o uso de animais se tornou obsoleto com o surgimento de alternativas para as experiências. “De fato, existem alternativas, mas nem todas são válidas e podem ser utilizadas. À medida que as alternativas forem desenvolvidas e validadas, os pesquisadores serão os primeiros a utilizá-las. O importante para o pesquisador é a validade do seu resultado, sendo ele produzido com animais ou com técnicas alternativas”, diz Marcel Frajblat, professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Itajaí (SC), e presidente do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea). “No caso dos medicamentos, eles têm de passar por pelo menos três espécies animais antes de serem comercializados. Não existem alternativas, fora do uso de animais, para testar um medicamento antes de ele ser encaminhado para testes pré-clínicos em seres humanos”, diz Frajblat. Milton de Arruda Martins, professor titular da clínica médica da FMUSP, dá exemplos: “Medicamentos contra a Aids e contra o câncer têm de ser bastante potentes e a experimentação animal vem sendo fundamental para avaliar tanto os efeitos benéficos como os colaterais”. Da mesma forma, diz Martins, o desenvolvimento de vacinas exige, a certa altura, que o antígeno seja aplicado num organismo vivo para averiguar sua capacidade de produzir anticorpos. “Temos duas opções: testá-los em animais ou aplicá-los diretamente em seres humanos. Não há uma terceira opção e a sociedade precisa saber disso”, afirma.


É certo que o argumento da obsolescência de aplicações dos modelos animais baseia-se em premissas que fazem sentido. De fato, certos usos caíram em desuso, alguns por razões éticas, e, sim, surgiram opções capazes de aposentar o uso de animais em vários tipos de experiência. Mas os avanços científicos, com as novas perguntas e desafios que impõem aos pesquisadores, fazem brotar novas aplicações de modelos animais a cada dia – e não há razões para acreditar que isso vá mudar.


Nocaute genético - Regina P. Markus, professora do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE), dá um exemplo de uso obsoleto. Ela lembra que, na década de 1930, foi desenvolvida uma técnica para diagnosticar gravidez: aplicava-se urina de uma mulher em ratas e avaliava-se se seu útero se dilatava, efeito da tempestade hormonal feminina que se segue à fecundação. “É evidente que hoje não faria nenhum sentido fazer um teste de gravidez dessa forma, mas foi utilizando essa técnica que se descobriu o modo atual de fazer o diagnóstico.” Durante as décadas de 1980 e 1990, a experimentação em animais cedeu à biologia molecular parte do espaço que ocupava. “O estudo de genes e proteínas valendo-se de modelos celulares foi tão disseminado que os estudos fisiológicos envolvendo animais de experimentação perderam força”, escreveu Antonio Bianco, professor associado de medicina da Universidade Harvard, em sua coluna no site Pesquisa FAPESP. de

Nos últimos anos, contudo, aconteceu uma notável reviravolta. A possibilidade de criar linhagens de animais com inativação ou indução de um ou mais genes deu um novo impulso à pesquisa com animais, como destacou Bianco. Os geneticistas norte-americanos Mario Capecchi e Oliver Smithies e o inglês Martin J. Evans ganharam o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2007 pela criação de uma tecnologia, conhecida como nocaute genético, que permite inativar certos genes e monitorar os efeitos dessa ação, o que leva à construção do quadro do desenvolvimento da doença. Até o momento, mais de 10 mil genes de ratos foram “nocauteados”, e muitos outros devem passar pelo mesmo processo em um futuro próximo. O resultado são mais de 500 modelos de doenças humanas, incluindo problemas cardiovasculares e neurodegenerativos, diabetes e câncer. “A evolução do conhecimento na genômica fez explodir o uso de camundongos como ferramenta de pesquisa”, diz José Eduardo Krieger, professor associado do Departamento de Clínica Médica da FMUSP e pesquisador do Instituto do Coração, de São Paulo.



Alma racional - Os primeiros relatos conhecidos de uso de animais em experimentações remontam há mais de 2 mil anos, quando Hipócrates (450 a.C.) realizou estudos que relacionavam órgãos humanos doentes com os de animais para fins didáticos. As investigações com modelos animais ganharam fôlego a partir do século XVI. Em 1638, William Harvey publicou um livro em que expôs estudos experimentais sobre a fisiologia da circulação sangüínea feitos em 80 espécies diferentes. Atribui-se ao filósofo francês René Descartes (1596-1650) um aval às experiências, ao alegar que os homens eram dotados de uma alma racional e os animais, não. Já o inglês Jeremy Bentham (1748-1832) foi um dos primeiros a apresentar um contraponto à visão cartesiana, ao formular questionamentos éticos acerca do sofrimento imposto aos animais. “Provavelmente, a partir das idéias de Bentham aparecem as primeiras ações com relação à proteção aos animais no século XIX”, escreveram Marcia Raymundo e José Roberto Goldim, pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, autores do artigo “Ética da pesquisa em modelos animais”.

O advento das primeiras sociedades de proteção aos animais no século XIX já mobilizou cientistas. Em 1865, o médico Claude Bernard justifica a utilização dos animais de forma veemente em seu livro Uma introdução do estudo da medicina experimental. “Nós temos o direito de fazer experimentos animais e vivissecção? Eu penso que temos este direito, total e absolutamente. Seria estranho se reconhecêssemos o direito de usar animais para serviços caseiros, para comida, e proibir o seu uso para a instrução em uma das ciências mais úteis para a humanidade. A ciência da vida pode ser estabelecida somente através de experimentos e nós podemos salvar seres vivos da morte somente após sacrificar outros”, escreveu Bernard.

Na avaliação de Luiz Eugênio Mello, da Fesbe, a defesa do direito dos animais ganhou articulação no século XVIII com o advento do conceito do “bom selvagem”, cunhado por Jean-Jacques Rousseau em alusão às qualidades superiores que, a seu ver, tinham os indivíduos que viviam no estado da natureza. “O sentimento de que o homem é um corruptor da natureza surgiu na Revolução Industrial e não deixou de existir”, diz. “Ele frutificou na defesa dos direitos dos animais, no discurso dos ecologistas e, mais recentemente, na oposição aos transgênicos. Como utopia é bonito e, sem dúvida, rende belos roteiros aos estúdios Walt Disney. Mas o mundo real é bem diferente. Muitas pessoas gostam de comer carne. E a pesquisa científica, que aumentou a expectativa de vida da humanidade e viabilizou remédios e tratamentos, foi totalmente calcada em experimentos com modelos animais”, diz. “É uma utopia ignorar que dependemos de nos alimentar de vegetais e de outros animais para sobreviver. Para você existir, alguma outra coisa tem que deixar de existir. Esse é um fato da natureza”, afirma Luiz Eugênio. Marcel Frajblat, presidente do Cobea, aponta uma questão de fundo: a sociedade, incluindo os vereadores do Rio e de Florianópolis, tem uma percepção errada de como a ciência é produzida, associando o uso de animais em pesquisa a maus-tratos e não percebendo o benefício deste uso no seu dia-a-dia. “E muitos dos que militam contra o uso de animais pensam mais em si e nos animais do que nas pessoas que precisam de medicamentos e terapias desenvolvidos com a ajuda de modelos animais”, afirma Frajblat.

Beneficiários - O antivivisseccionismo recebeu uma injeção de ânimo a partir dos anos 1970, com o livro Libertação animal, do australiano Peter Singer, professor da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, que, entre outras denúncias, chocou ao mostrar os testes de toxicidade de cosméticos feitos em olhos de coelhos. Singer é um dos formuladores do termo “especismo”, discriminação que pressupõe que os interesses de um indivíduo são de menor importância pelo mero fato de se pertencer a uma determinada espécie. Neste aspecto, curiosamente, há espaço para convergência. A idéia de que remédios, tratamentos e técnicas cirúrgicas devem ser testados primeiro em animais para só depois serem experimentados em seres humanos baseia-se, sem dúvida, na concepção da primazia humana. Mas os cientistas rejeitam a idéia de que há vencedores e vencidos. “A experimentação com modelos animais ajudou a desenvolver tratamentos, medicamentos e procedimentos para a veterinária e hoje os animais também são beneficiários diretos disso”, diz Luiz Francisco Poli de Figueiredo, professor titular de técnica cirúrgica da Faculdade de Medicina da USP.

Não se imagine que o sacrifício de animais de laboratório é assunto bem resolvido entre os pesquisadores. A geneticista Mayana Zatz, pró-reitora de Pesquisa da USP, é uma defensora do uso dos animais em experiências científicas. “Sem eles, toda a pesquisa que está sendo feita com células-tronco se tornaria inviável. Não dá para aplicar em humanos sem primeiro testar exaustivamente em modelos animais”, ela afirma. Mayana, contudo, prefere delegar a seus assistentes e orientandos a tarefa de sacrificar animais. “Eu olho de longe. Não gosto de matar bicho, da mesma forma que não como carne. Mas não é porque eu tenho dificuldade de trabalhar com modelo animal que vou esquecer que eles são absolutamente necessários para a pesquisa”, afirma. A professora Regina P. Markus, do Instituto de Biociências da USP, já se acostumou a administrar esse tipo de problema. “Nunca vi nenhuma dificuldade no uso de animais por alunos de medicina. Eles sabem claramente que isso tem uma justificativa, que é o avanço de terapias ou cirurgias. Isso já não ocorre com vários estudantes de biologia. É comum haver, entre eles, jovens que querem seguir carreira com viés conservacionista e têm dificuldade em trabalhar com animais. Já vivi situações no laboratório em que eu própria tive de sacrificar animais, porque nenhum estudante se habilitou para a tarefa”, con- ta. Regina diz que o importante, em situações como essa, é não fazer julgamentos. “Trata-se de uma questão de foro íntimo, que precisa ser respeitada. O importante é manter o consenso de que o uso dos animais é fundamental para a pesquisa”, destaca a professora.

A favor dos defensores dos direitos dos animais, deve-se dizer que sua mobilização teve um papel na construção do conjunto de procedimentos éticos em experimentação. Um episódio ocorrido em 1988 ilustra essa influência. Na ocasião, o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, proibiu o Centro de Zoonoses do município de fornecer cães recolhidos das ruas para experiências em universidades e institutos de pesquisa. Jânio cedeu aos apelos de sua mulher, Eloá, que adorava cachorrinhos e considerava cruel o destino que os animais de rua tinham nas mãos dos pesquisadores. A reação dos pesquisadores foi forte e a prefeitura acabou cedendo. O tempo passou e o que era tido como imprescindível nos anos 1980 tornou-se condenável segundo os critérios éticos atuais. Boa parte daqueles cães de rua era usada em experiências de sala de aula, nas quais se treinava, por exemplo, a habilidade de futuros médicos em usar o bisturi ou fazer suturas. “Atualmente a utilização de animais para demonstração em aulas está bastante reduzida e foi sendo substituída por outras técnicas. A pressão das entidades dos direitos dos animais e de muitos alunos mudou esse costume”, diz Mirian Ghiraldini Franco, professora da Unifesp e coordenadora do Cedeme. Também ajudou a erradicar o uso de cães de rua nas instituições paulistanas o fato de os animais terem saúde precária, podendo contaminar pesquisadores e alunos. “Hoje só se faz pesquisa com animais que apresentem condições ideais de saúde. Revistas internacionais não publicam artigos envolvendo experiências com animais criados precariamente”, afirma Mirian.

Ralos à prova de fugas - A necessidade de criar animais de qualidade para pesquisa provocou uma transformação nos biotérios. O novo Centro de Bioterismo da FMUSP foi inaugurado em 2002 com investimento de R$ 5 milhões. O edifício teve de ser adaptado para que se encaixasse nos padrões da International Council for Laboratory Animal Science (Iclas) e da Association for Assessment and Accreditation of Laboratory Animal Care International (Aaalac), duas entidades que regulam esse tipo de centro no mundo. Foram desenvolvidos em parceria com indústrias de material de construção ralos à prova de fugas, tinta resistente aos produtos de limpeza, portas de aço com fechamento pneumático, sistemas de ar condicionado, entre outros. “Para se produzirem animais mais adequados para pesquisas, com variabilidade genética menor e criados em condições ambientais e sanitárias controladas, foi necessário investir em grandes biotérios, que são estruturas caras de se manter”, afirma Roger Chammas, professor associado e diretor do Centro de Bioterismo da FMUSP.

A racionalização do uso de animais segue o modelo proposto em 1959 pelo zoologista William Russell e pelo microbiologista Rex Burch, que estabeleceram os três erres da pesquisa em animais: Replace, Reduce e Refine, na qual a utilização é permitida, mas deve ser reduzida ao mínimo e substituída sempre que possível por outras técnicas. No ano passado, o biotério da Unifesp, que fornece 2 mil ratos e 5 mil camundongos por mês, deu um passo importante rumo à racionalização. Passou a cobrar pelos animais de laboratório – os valores variam de R$ 5 a R$ 50 (camundongos transgênicos são os mais caros). A medida fez com que a demanda caísse 50%, numa evidência de que o uso, até então, era exagerado. Na Faculdade de Medicina da USP, os cães foram abolidos dos experimentos e o treinamento de estudantes em técnicas cirúrgicas, por exemplo, é realizado em animais que foram utilizados em pesquisas relevantes e seriam descartados, sempre com uso de anestesia e analgesia. O aprendizado de técnicas de sutura e de implante de enxertos, que antes usava cães vivos, hoje é feito em segmentos de animais já sacrificados – e até em línguas de boi compradas no açougue. Colaborou para a redução do uso de animais na FMUSP a criação de novas técnicas para treinamento de estudantes, como um simulador de cirurgias por laparoscopia, aquelas feitas por meio de uma tela de computador, que submete o estudante a situações reais, além de ratos de plástico e de manequins nos quais é possível reproduzir algumas situações reais. “São recursos que substituem o uso de animais com eficiência na fase inicial do treinamento, assim como preparam muito melhor o estudante e o profissional para uma prática clínica adequada”, diz Luiz Francisco Poli de Figueiredo, professor titular de técnica cirúrgica da Faculdade de Medicina da USP.

Primatas - A racionalização obedece a demandas econômicas. Hoje nove em cada dez experiências envolvem ratos e cobaias, muito mais fáceis de manusear e baratos de manter, enquanto diminuiu o uso de cachorros e gatos. Cresce a aplicação do zebrafish, um peixinho de aquário conhecido como paulistinha, que se reproduz rapidamente e tem muitos genes semelhantes aos dos seres humanos. “O uso ainda é incipiente, mas o modelo é bastante promissor. É um vertebrado translúcido, que pode ser facilmente observado, é prolífico em produzir embriões e tem um custo de manutenção baixo”, afirma o pesquisador José Xavier Neto, coordenador do Núcleo Multiusuário de Animais Transgênicos da FMUSP e pesquisador do InCor.

A utilização de primatas, que sempre foi controverso pela semelhança com os homens, segue polêmica e difícil. Mas os macacos ainda são considerados indispensáveis em pesquisas como a de vacinas contra a Aids, pela semelhança com o organismo humano, e eles vêm sendo cada vez mais requisitados na pesquisa em neurociên-cia. “Nunca tive dificuldade em conseguir autorização para utilizar macacos nos Estados Unidos e acho a decisão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro um absurdo, um retrocesso e uma grandíssima bobagem”, resume Miguel Nicolelis, professor brasileiro da Universidade Duke, autor de pesquisas pioneiras envolvendo a comunicação entre o cérebro de macacos e próteses robóticas.

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